Artes plásticas

Abraham Palatnik – a reivenção da pintura

Eu e minha prima estávamos precisando nos ver. Decidimos fazer um passeio até o CCBB, espaço que sempre me recebe com exposições encantadoras sem doer no meu humilde bolso de universitária 😅. Mais uma vez, decidi contar com a surpresa: nem conferi a programação do centro cultural, ciente de que – como sempre – adoraria o que iria encontrar por lá.

Ao adentrar a primeira sala da exposição, uma obra saltou aos meus olhos: não só inesperada como sedutora à visão e ao tato. As obras em alto-relevo desse incrível – e, até então, desconhecido por mim – artista parecem um convite ao toque! Não, eu e minha prima não metemos os mãozões nos quadros. Por vezes, no entanto, fomos alertadas pelas funcionárias de que estávamos nos debruçando para além da linha demarcada no chão – que indica o limite de proximidade entre espectador e obra. É que estávamos diante de telas muito envolventes, que pedem olhares minuciosos para revelar seus delicados detalhes.

São peças encantadoras, ornadas com tinta alquídica, ripas de madeira, corda, metal e cartão – além de outros materiais. Nos instigam a idealizar o cenário no qual foram gestadas. Imagino o homem sobre uma cadeira manchada – antiga companheira; a janela levemente aberta, deixando entrar a gostosa luminosidade dos raios matutinos; horas a fio debruçado sobre a composição em andamento, no trabalhoso ofício de cortar simetricamente o cartão. A bunda já quadrada, a boca seca e a bexiga pedindo pra ser esvaziada. Mas o artista resiste a abandonar a feitura de uma boa obra no ápice de sua criatividade, mesmo que para satisfazer necessidades biológicas.

P_20170405_163916 (3)
Sem título, 2006. Feita em cartão cortado.

O responsável pelas lindas criações é Abraham Palatnik, nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, no ano de 1928. Viveu com sua família na região correspondente ao atual Estado de Israel de 1932 a 1948. Sua ligação com a arte teve início no ateliê do pintor Haaron Avni e do escultor Sternshus, e também estudou estética com Shor. Em Tel Aviv, frequentou a Escola Técnica Montefiori – onde se tornou especialista em motores de explosão – e o Instituto Municipal de Arte da cidade.

P_20170405_161244 (2)
Autorretrato, 1945.

De volta ao Brasil, fez morada no Rio de Janeiro. A partir de 1964, começou a produzir os Objetos Cinéticos: esculturas em arame, formas coloridas e fios que se movimentam graças a motores e eletroímãs. Palatnik é reconhecido por ser o primeiro a valer-se dos avanços tecnológicos na criação de vanguarda do nosso país. É considerado, ainda, em âmbito internacional, um dos pioneiros da arte cinética – que traz objetos em movimento.

objeto
Um dos Objetos Cinéticos, este de 1966/2009.

Visitar Abraham Palatnik – a reivenção da pintura foi muito mais do que um passeio vespertino com minha prima. Foi meu primeiro contato com o trabalho de uma célebre figura da arte nacional que, de fato, foi e é capaz de reiventar a arte e, mais ainda, de levar o/a observador(a) a se reiventar diante dela.

Abraham Palatnik – a reinvenção da pintura
Até 24 de abril de 2017
Quarta a segunda, das 9h às 21h
Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ)
Entrada franca
bb.com.br/cultura

Fonte de consulta: Enciclopédia Itaú Cultural (disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9891/abraham-palatnik)

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s