Artes plásticas

As cores de Maria Auxiliadora da Silva

A cada dia me sinto menor diante da abundância de conhecimentos e de arte que nosso país esbanja. Vou me dando conta de que minhas pesquisas sobre o assunto nunca hão de se encerrar. Há muito ainda para ver e conhecer, pra nos tocar com intensidade nesse cenário vasto e enriquecedor que se apresenta para nós brasileiros.

Em mais um dia no meu querido CCBB, dessa vez para prestigiar a mostra Entre nós – A figura humana no acervo do MASP – aaah, QUE mostra! 😲 – descobri vários nomes da arte nacional. Uma mulher, no entanto, me tocou de maneira especial. Envolvendo-me com suas cores e traços característicos, levou-me até os recônditos de sua existência. Revelou-me suas angústias, pesares e também alegrias.

capoeira2
“Capoeira”, 1970. A obra que me cativou.

A artista veio ao mundo em 1935, em Campo Belo (MG), uma das 18 descendentes de Dona Maria – que bordava, esculpia, pintava e cuidava do lar. Autodidata, sem noção de perspectiva ou de claro-escuro, decidiu se dedicar integralmente à pintura a partir de 1967.

Passou pelo Embu das Artes (SP), onde havia um centro de artesanato enfocado na cultura de origem africana. Expôs trabalhos na Praça da República, na capital paulista. Teve exposição promovida pelo cônsul estadunidense em 1971, na galeria USIS do Consulado, também em São Paulo.

maria
Maria Auxiliadora da Silva.

Auxiliadora era uma espécie de cronista imagética. Por meio de muita cor, ela parece inspirar alegria em quem admira seus quadros. Mas ela não registrou apenas alegria. Ela registrou também dor.

Viveu em luta constante contra dolorosos obstáculos. E pintar fazia parte dessa luta. Usava a pintura como instrumento para, generosamente, nos fazer enxergar a realidade com outros olhos: seus olhos de artista.

com anjos
“Autorretrato com Anjos”. Pintar fazia parte da luta de Auxiliadora contra o câncer.

Entre os combates que a vida lhe impôs estão sua retomada aos estudos e um agressivo câncer. Matriculada, aos 37 anos, em um curso noturno, frequentado por pessoas cansadas porém guerreiras como ela, não deixou de transpor para as telas o que viu na sala de aula.

Já a doença viria a ceifar a vida da inspirada artista de meia-idade. Após seis procedimentos cirúrgicos e a busca incessante pela cura – na medicina tradicional, nos centros espíritas e no candomblé – Auxiliadora se foi em 20 de agosto de 1974.

Percebo que devo ser grata pela passagem dessa mulher pela história brasileira. Ela, que me fez amante de seu trabalho no mesmo dia em que a conheci. Ela, que com inabalável coragem conseguiu extrair as mais vibrantes cores da dor e das vicissitudes de sua vida. Obrigada por ter elegido a arte seu ofício, Maria Auxiliadora da Silva!

Fonte de consulta: Geledés (disponível em: http://www.geledes.org.br/maria-auxiliadora-da-silva/#gs.oe8juus)

Fonte da imagem 2: Galeria Estação (disponível em: http://www.galeriaestacao.com.br/artista/33#prettyPhoto%5BGalArtista%5D/0/)

Fonte da imagem 3: Instituto Internacional de Arte Naif (disponível em: http://artenaifrio.blogspot.com.br/2012/08/maria-auxiliadora-da-silva.html)

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