Crônicas

Para Jujuba

[…] eu e meu pai reparamos em uma preta muito engraçadinha, com um topete singular. Era um amontoado de pelos que formava um tufo de formato esférico. Não tenho dúvidas que a função daquilo era cativar qualquer coração mole que por ali passasse. E não deu outra.

Fazia muito sol quando eu e Larissa fomos até a veterinária pegar Jujuba e transportá-la, ao lado de sua irmã Cocada, em uma caixinha de papelão até à casa de veraneio da minha avó. Suadas e com os braços fraquejantes, revezávamos pra carregar aquelas duas bolinhas de pelos que permaneciam agitadas durante todo o trajeto, curiosas para conhecer o mundo para além da clínica veterinária na porta da qual haviam sido abandonadas.

Mas esse não foi o dia em que minha irmã e eu interagimos pela primeira vez com aquelas duas fofurinhas ambulantes. Em uma das visitas da nossa família à nossa cadela Preta — que, já idosa, estava doente — havíamos nos deparado com um cercadinho cheio de criaturas extremamente pequenas e peludas, que covardemente abanavam seus rabinhos em um espetáculo conquistador, bem na recepção da clínica.

Na ocasião, eu e meu pai reparamos em uma preta muito engraçadinha, com um topete singular. Era um amontoado de pelos que formava um tufo de formato esférico. Não tenho dúvidas que a função daquilo era cativar qualquer coração mole que por ali passasse. E não deu outra.

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Algumas semanas se passaram até que eu e Lalá voltássemos enfim para buscar nossas novas amiguinhas. A cadelinha do topete, bem como uma malhada simpática, escolhida pela Larissa, foram colocadas na caixinha na qual seriam transportadas até à casa.

Enquanto eu e meu pai comentávamos sobre a pequena juba que a filhote preta ostentava, a alcunhamos, de maneira espontânea, de Jujuba. Para acompanhá-la, nada mais justo que uma doce Cocada. E assim eram batizadas duas criaturinhas incríveis e, a partir de então, inseparáveis.

A chegada da duplinha super dinâmica ao lar foi interessante. Conhecendo o extenso terreno com o pudor característico de criaturas que há pouco chegaram ao mundo, aos poucos as cadelinhas começaram a se ambientar.

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Na divisão entre o espaço gramado e as lajotas, o terreno tem uma pequeno degrau de concreto que, para criaturas de porte médio para cima, é facilmente transponível com uma passada. Jujuba, no entanto, atravessava aquela barreira com o esforço que um equino emprega para ultrapassar um obstáculo em uma prova de hipismo. Era muito divertido de ver.

Nossa cadelinha do topete foi crescendo. Ao lado da maninha, seguia desbravando o território, correndo atrás de passarinhos, pedindo carinho e latindo para qualquer um que passasse do lado de fora — talvez em uma tentativa falha de disfarçar sua amabilidade e fingir que estava ali para proteger a propriedade.

Aos seus aproximadamente 5 anos de idade, nossa querida Jujubinha começou a ter convulsões. Me recordo bem do dia em que presenciei a primeira. Havia acabado de içá-la no ar como o Rafiki faz com Simba em O Rei Leão, quando ela se afastou, indo até a grama distante, e entrou em crise convulsiva.

Aquilo doeu. Em meu desespero, cheguei até a me sentir culpada, como se a minha brincadeira recém-feita pudesse tê-la estressado e contribuído com o quadro.

Mas seguimos em frente, providenciando os cuidados necessários para controlar a enfermidade da nossa fofuxa, então diagnosticada com epilepsia, após diversos exames. A vida foi passando, e toda vez que íamos à casa brincávamos com as duas com normalidade, Jujuba ostentando aparente bem estar, correndo, tomando sol e se alimentando como sempre fizera.

Um dia, estávamos no nosso apartamento quando recebemos um telefonema comunicando o pior: Jujuba entrara em uma crise da qual não conseguia sair. Na mesma hora, nos aprontamos e partimos ao encontro de nossa amiga, otimistas de que uma internação seria o suficiente para colocar tudo nos eixos novamente.

A despeito de todos os esforços, nossos e da equipe médica veterinária, nossa criaturinha topetuda não resistiu e veio a falecer, na manhã do dia seguinte. Não sei o que a Jujubinha sentiu naqueles últimos dias. Não sei o tamanho de sua dor enquanto internada. Igualmente ignoro a dimensão de sua alegria quando corria com a Cocadinha pela grama. Ou se ela tinha alguma compreensão do quanto fazia nossas vidas mais felizes.

Eu só sei que a Jujuba nunca fez mal a ninguém e colocou sorrisos nos rostos de todos que com ela estiveram. E isso basta.

Obrigada, Jujubinha.

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