No nosso querido quarto no antigo apartamento da família — do qual tanto falo aqui no blog, devido às doces lembranças que evoca — tinha tralha pra tudo quanto é gosto. Das famigeradas panelinhas de brinquedo aos jogos de tabuleiro, passando pelas tintas guache e mini instrumentos musicais, o cômodo abrigava toda sorte de objetos infantis.
Se eu e minha irmã já conseguíamos tocar o terror sozinhas, que dirá acompanhadas da criançada que nos visitava periodicamente. Nossos amiguinhos lotavam, conosco, o quarto — que tinha mais brinquedo do que criança por metro quadrado. Com a galera toda junta, não tinha tempo ruim: era farra que não acabava mais.
Entre uma traquinagem e outra, nada mais justo do que um pulinho na sala ao lado para um merecido lanchinho — afinal, tínhamos que reabastecer as nossas tão bem gastas energias! Difícil dizer qual era a melhor hora daquelas noites de recreação: se a da diversão ou a da refeição.
Como muitos dos quartos de meninas nos anos 2000, o que eu dividia com a Lalá era equipado com alguns utensílios de cozinha de brinquedo. No meio deles, um colorido liquidificador fez sua fama como atração principal: afinal, era altamente tecnológico! Trazia um botão em sua base que, quando acionado, punha em movimento de rotação uma “lâmina” plástica.
E foi evidentemente ele, o carro chefe do quarto, nossa fonte de inspiração para uma das artimanhas mais lendárias daquele antigo apartamento do bairro do Estácio. Foi o dia em que decidimos, brilhantemente, mesclar os dois melhores momentos dos nossos encontros. Como nunca havíamos pensado nisso antes?
Pois bem: em uma dessas escapadas até os petiscos que descansavam sobre a mesa da sala, cercada pelos adultos, enchemos nossas mãozinhas com belisquetes dos mais diversos, do amendoim à azeitona. Levamos tudo discretamente até o quarto, como se estivéssemos simplesmente prestes a degustar um merecido lanche. Mal sabiam nossos papais e nossas mamães que aqueles alimentos teriam uma finalidade muito mais audaciosa…
Uma vez no quarto, tacamos tudo dentro da engenhoca — que até então aparentara ser a mais potente do universo dos brinquedos infantis. Para aquele inocente grupinho de amigos, nada mais coerente do que rechear o fiel liquidificador com a comida que estava à disposição.
Ao apertarmos o botão do aparelho, no entanto, enfrentamos a dura certeza de que uma pequena peça plástica jamais seria capaz de triturar todos aqueles ingredientes. Fizemos a maior lambança, quebramos o querido brinquedo e ainda tivemos que arrumar todo aquele estrago.
Irônica, essa vida… Hoje, que atingimos a vida adulta e temos um liquidificador de verdade à nossa disposição no armário da cozinha, já não encontramos diversão alguma em manipulá-lo. Mas — que Pessoa me permita adaptar sua célebre frase — tudo vale a pena quando se é criança pequena.
Ahhhh . Esqueceu-se dos tremoços!!!
E… Acho que tenho foto dessa lambança toda… Vou procurar !
Morri de rir ao ler seu texto, Rafa!!!
Voltei no tempo!
Parabéns!!!!!
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Tia Cátia!
Que alegria saber que você se divertiu com meu texto! 😄 Obrigada pela visita ao blog e pelo comentário! 😊
Você tem razão, esqueci dos tremoços e do salaminho! Hahahaha! 😂
Ahhh, será que você tem a foto? Procurei aqui em casa e não encontrei, por isso postei uma de outro dia… Se encontrar me envia que eu substituo! 😍
Beijo grande! ❤
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Hahahahaha!! Lembro bem da mamãe e papai reclamando com a gente ao fim da noite, enquanto varriam o quarto…
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Hahahaha! 😂 Esse dia foi memorável… ❤
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Adorei ler este relato. Ele passa por gerações. E são essas traquinagens de criança que fazem a vida mais saborosas. Bjs. Vera
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Vera, que alegria sua visita aqui no blog! 😊
Fico feliz que tenha gostado! De fato as aventuras da infância são deliciosas, por isso gosto tanto de registrá-las! 😍
Beijos carinhosos!
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Tenho lembranças inesquecíveis desse apartamento. Principalmente das nossas conversas via janela (um whatsapp anos 90) que até hoje me questiono como conseguíamos nos compreender, tamanha a distância.
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Lucas Mira,
Adoro quando os personagens das minhas lembranças mais divertidas da infância aparecem aqui no blog, é uma honra. Prepare-se, pois ainda vou publicar aqui alguns dos nossos episódios hilários, rsrsrs.
Essas conversas gritadas eram geniais. Realmente, hoje, vendo a distância entre as janelas, me surpreendo com a potência das cordas vocais das crianças daquela época… Hahahaha!
Beijos e volte sempre aqui no blog! 😊
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