O segundo exemplar lido dentre os recolhidos no meu garimpo literário, ao contrário de 100tenários, me atraiu pela sua capa, decorada com um pomposo arranjo floral, sobre o qual se lia o título Histórias do Mercado das Flores.
Naquele dia no sebo, ao puxar a publicação do meio de uma pilha de livros ignorados, instintivamente virei-a, para ler sua contracapa e compreender sumariamente a trama que suas páginas abrigavam. A quarta capa apresentava a obra literária como uma coletânea de memórias do tradicional Mercado das Flores, localizado no centro carioca.
O autor, Pedro Barros Moreira, trabalhou durante quase cinquenta anos no Mercado, na floricultura A Camélia Flores, então propriedade de seu tio João Barros Moreira. Em época posterior, Pedro abriu, com seus irmãos, a Marcelo Decorações — também no Mercado –, anos antes de vender sua parte do empreendimento e arrendar de seu tio João uma das floriculturas que compunha o grupo A Camélia: A Roseiral Decorações.
Pedro Barros Moreira (foto: reprodução/Facebook).
Eu, fascinada que sou pelos encantos do Rio Antigo, logo fui atraída pela temática do livro. Afinal, o verso do exemplar declarava que o quase centenário Mercado das Flores firmou-se ao longo dos anos não apenas como um polo de referência no comércio de flores, mas também como um ponto turístico da cidade, devido à beleza de seus arranjos florais.
Como pontos altos da obra literária, destaco a fluidez da narrativa, a singularidade dos episódios relatados e a paixão declarada de Pedro pelo ofício de floricultor. Atravessei os capítulos com muita facilidade, envolvida em composições textuais leves e arrebatada pelas aventuras narradas.
A floricultura A Camélia Flores. Acima, o proprietário Álvaro Barros Moreira, conhecido como Álvaro da Camélia (fotos 1 e 2: Fabíola Gerbase/G1; foto 3: Veja Rio).
Em contrapartida, me decepcionei com alguns trechos cujo conteúdo se distancia do prometido pela sinopse da publicação. Nesses trechos, o autor confunde suas memórias do Mercado das Flores com a sua história pessoal, fazendo o livro se assemelhar a uma autobiografia. Exemplos disso são os relatos de seu período de serviço militar no Primeiro Grupo de Canhões Automáticos Antiaéreo – Primeiro GCAN 40 e as memórias do temporal que assolou a cidade em 1966.
Concluo afirmando que esperava mais de uma obra literária com um assunto tão interessante e um autor com tantos anos de bagagem do tradicional Mercado das Flores. Acredito que a temática do livro poderia ter sido melhor explorada, de modo a satisfazer as expectativas oferecidas pela parte externa do exemplar. Afora isso, parabenizo Pedro Barros Moreira pelas belas experiências relatadas em seu primeiro livro publicado, além de desejar com sinceridade que este seja a primeira de muitas publicações suas!
“Dizia: ‘Já estou sabendo de tudo o que aconteceu com você, foi verdade?’.
Não sabia de nada, mas pegava o sujeito sempre de surpresa, e aos poucos ia colhendo tudo. Então o jornaleiro foi dizendo: ‘O quê? Que eu me separei?’. E ele respondia: ‘É, mas, afinal, o que houve entre vocês?’. O jornaleiro aos poucos foi contando tudo.” (p.29)
“Uma de suas maiores brincadeiras era dar notícias sobre as outras pessoas sempre que perguntassem por alguém, poderia ser quem fosse, que de imediato respondia: ‘Não soube não? Morreu!’. […] Com isso, o cara ficou famoso no local por arrumar uma série de problemas.” (p. 24)
“Sempre antes um pouco de o sócio brasileiro chegar, para não encontrar a gaveta vazia e se queixar, chamava o único funcionário e mandava pegar muitas pedras portuguesas soltas pelas calçadas e encher a gaveta do dinheiro com as tais pedrinhas.” (p. 18)
O tradicional Mercado das Flores, na Praça Olavo Bilac, centro do Rio de Janeiro (foto: Agenda Bafafá).
Fotos em destaque
Foto 1 e foto 4: We Heart It
É isso mesmo às histórias do mercado das flores contadas por Pedro Barros Moreira merece nossa confiança e atenção a vida e obra de um patrimônio histórico que sem dúvida vale apena conferir abraço Marcelo Barros Moreira
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Olá, Marcelo!
Que bom que esse texto chegou até você. Fico feliz que tenha visitado o blog e apreciado o texto. 😊
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Abraços!
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