Cá estou de volta para, como prometido na semana passada, relatar uma das minhas experiências literárias de R$1,00. A primeira obra lida, das recolhidas na discreta seção promocional do Caverna do Saber, foi 100tenários.
Esse exemplar foi sem dúvidas o mais aleatório dos que elegi na ocasião. Naquele dia, contemplei a sua capa, que reunia vários dos artifícios de design que eu já havia sido orientada, em algum momento da minha vida acadêmica, a não executar. E, mesmo relutante, decidi dar uma chance à publicação, atraída pelo seu título.
A obra, como bem indica seu nome, aborda trajetórias de pessoas que alcançaram um século de vida. Interessei-me pelo exemplar pois, de uns tempos pra cá, venho me debruçando sobre a temática da terceira idade. Afinal, dar voz à população idosa é uma das maneiras de combater a discriminação e os julgamentos calcados em estereótipos defasados dos quais essas pessoas ainda são vítimas.
A autora, Dina Frutuoso, formada em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj e professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, defendeu em 1996 a primeira tese brasileira de doutorado sobre as Universidades Abertas da Terceira Idade – UnATIs. A profissional é diretora da Associação Brasileira de Psicologia Aplicada – ABRAPA e membra efetiva do Fórum Permanente da Política Nacional e Estadual do Idoso no Estado do Rio de Janeiro – Fórum PNEI-RJ. Ah, e ela ainda arranja um tempinho pra presidir a Associação Nacional de Gerontologia Seção Rio de Janeiro – ANG-RJ!

Já deu pra ver que essa senhora é referência no assunto, né? Pois além de 100tenários, ela tem outros dois livros publicados: A Terceira Idade na Universidade (1999) e A Idade do Saber (2003).
100tenários traz ao público relatos de pessoas centenárias acerca de amores, amizades, empregos, receitas, viagens… Os/as protagonistas da obra compartilharam tudo isso e mais um pouco com a autora, em entrevistas sem uso de gravador de voz — apetrecho que poderia acabar por inibir os/as entrevistados/as.
Curti muito poder conhecer as bagagens tão ricas dessas mulheres e homens. Olga de Almeida Pinho (1913-2012) fez, em vida, altas viagens pelo Brasil e também ao redor do mundo; Homero Lima (1906), por sua vez, participou da construção do monumento do Cristo Redentor como ajudante de pedreiro; já Carlos Sá (1912) tem uma receita secreta de família do biscoito joaquim teodoro, que ele não revela nem pra entrevistadora!
A senhora Ilsa Drugg Pedroso (1912), nascida e criada em Porto Alegre (RS), recorda suas aventuras de criança — uma das únicas meninas brincando no meio de uma cambada de garotos: ela declara que as brincadeiras não eram fáceis, mas ninguém a discriminava! Olha só, lá nos anos 20 ela já valorizava a equidade de gênero!

No livro, além de trazer os depoimentos desses/as personagens incrivelmente longevos/as, Dina Frutuoso também disserta sobre assuntos relevantes relacionados à temática da terceira idade, como o envelhecimento populacional brasileiro, o Estatuto do Idoso e a importância da conscientização da sociedade quanto aos direitos da pessoa idosa.
Apesar de destoar das leituras que costumo fazer no meu tempo livre, a obra mostrou-se — além de rica em conteúdo — prazerosa de se ler. Definitivamente, 100tenários já fez com que minha experiência de não julgar livros pelas capas valesse a pena!
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