Em um dia daqueles em que a alma pede um pouco de arte, fui caçar o que fazer e descobri que haveria um concerto de violoncelos gratuito na Casa França Brasil. Evidente que, no horário marcado para a apresentação, lá estava eu no centro cultural, pronta e ansiosa pelo que me aguardava.
Os violoncelistas deram de fato um show. No repertório, Tom Jobim, Astor Piazzolla e Heitor Villa-Lobos. Emocionante!
Ao fim do concerto, os artistas disseram ao público de onde vinham: da Ação Social pela Música do Brasil (ASMB), uma organização não governamental. Saindo de lá, encantada com o que acabara de ver e ouvir, fui direto pesquisar sobre a instituição e correr atrás de uma entrevista com algum dos instrumentistas do grupo. E descobri, assim, um pouquinho das histórias da Thalia e do Jean.
Thalia Martins tem 18 anos e reside no Complexo do Alemão. Aprendeu a tocar aos 13 anos, na própria ASMB, mas sua experiência como violoncelista não se restringe à associação: ela também toca na Orquestra Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro e já compôs o projeto Villa-Lobos e as Crianças, entre 2014 e 2015.
Jean Barreto, de 19 anos, mora no Morro dos Macacos e aprendeu a tocar no Instituto Grupo Pão de Açúcar. O rapaz conta que começou tocando viola, migrou para o violino e, por fim, chegou ao sonhado cello, que hoje não larga mais. Atualmente, além de tocar na ASMB, integra o grupo Som+Eu e faz cachê com a Camerata Uerê.
Thalia Martins e Jean Barreto (Fotos: Facebook ASMB).
Os dois demonstram a grande paixão pela música. A moça diz que essa arte transforma imensamente seu modo de pensar, cria mais pensamentos críticos e lhe mostra o verdadeiro mundo. Já o rapaz descreve a música como a coisa mais importante para ele.
A entrevistada relata que a ASMB lhe abre portas no mercado de trabalho e lhe mostra a capacidade que todos nós temos de transformar o mundo. Ela explica que o projeto lhe ensina que tudo o que ela quer pode ser alcançado, desde que saiba como consegui-lo e trabalhe por isso.
Os interessados em ter aulas de música na ONG não precisam participar de qualquer processo seletivo. Basta que levem os documentos solicitados até o local para a realização da inscrição.
A fundação disponibiliza o material necessário aos aprendizes – inclusive os instrumentos. Além disso, custeia viagens para que os instrumentistas se apresentem fora: só nesse semestre, alguns deles estiveram em turnê pela Alemanha e Holanda.
Mas por trás do sucesso há muito trabalho duro. Thalia tem nove horas de aula por semana, distribuídas em três aulas ministradas por voluntários – os alunos mais antigos lecionam aos mais novos.

E pensar que um dia disseram ao Jean que ele não seria feliz com o violoncelo. Hoje ele declara que é a pessoa mais feliz do mundo, por estar fazendo o que ama, que é tocar esse “instrumento maravilhoso”. Se o entrevistado tem algum arrependimento? “Ter entrado há bem pouco tempo no violoncelo”.
Uma lembrança especial da trajetória de Thalia como membra da associação é de quando seu grupo foi tocar no Theatro Municipal: os músicos estavam nervosos, “com aquele friozinho na barriga” e muito felizes por estarem ali. E aposto que encheram a plateia de gratidão. Gratidão por ver essa galera incrível tão empenhada em decifrar partituras, entrar no ritmo e executar belíssimas melodias.