Dia 24 de outubro passado, fiz questão de marcar presença no VIII Seminário de Alunos da Pós-Graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O evento – organizado com muita dedicação e suor por estudantes de uma universidade que sofre frente ao descaso da atual gestão governamental – recebeu a escritora Conceição Evaristo e a professora Maria Aparecida Andrade Salgueiro e contou com mediação da doutoranda Fernanda Vieira.
Conceição Evaristo é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela UFF. É autora de dois romances, três volumes de contos e um volume de poesias, tendo recebido vários prêmios literários.
Maria Aparecida Andrade Salgueiro é doutora em Letras pela UFF e pós-doutora pela Universidade de Londres. É docente e pesquisadora da Uerj e seu trabalho enfoca, entre outros assuntos, as literaturas afro-americana, afro-brasileira, dos afrodescendentes e de mulheres.
Fernanda Vieira é mestra e doutoranda em Literaturas de Língua Inglesa pela Uerj e uma das organizadoras do VIII SapUerj. Ela abriu o evento brilhantemente, ao enfatizar a relevância de discussões e mobilizações frente ao revoltante sucateamento ao qual a universidade tem sido submetida.
A doutoranda coroou sua fala com a menção à política de cotas sociais e raciais que, em âmbito nacional, foi inaugurada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ela abordou a pluralidade do corpo discente da instituição, característica possibilitada pelas políticas afirmativas, pelas turmas noturnas e pela localização do campus Maracanã – que pode ser acessado de trem, ônibus ou metrô.
Antes mesmo de a grande convidada da noite iniciar sua exposição, os/as ouvintes já vibravam com a fala da Fernanda. Mas aquela noite reservava ainda muitos depoimentos incríveis e aplausos acalorados.
Maria Aparecida Andrade Salgueiro, a segunda a falar, relatou que foi a primeira a realizar uma tese de doutoramento sobre a Conceição Evaristo – trabalho que foi rejeitado pela academia. O pioneirismo de Salgueiro mostrou-se essencial para abrir espaço a estudos acerca da literatura afro-brasileira. Na atualidade, já há cerca de 4.000 artigos sobre Evaristo.
Chegada sua hora, a premiada autora começou abordando seu vínculo com a Uerj e sua inquietação diante do descaso do governo estadual com a universidade. A romancista narrou momentos significativos que viveu ali, como o lançamento de seu romance Ponciá Vicêncio na Capela Ecumênica – em 2003 – e o XV Encontro Abralic – em 2016.
“A Uerj também é minha casa. E a gente não quer ver a casa da gente cair.”
A escritora relatou, ainda, sua identificação com as pessoas que ocupam o campus. Expôs que aquele é um dos poucos ambientes acadêmicos nos quais nota certa diversidade étnica.
“Estar aqui na Uerj e encontrar meus semelhantes e minhas semelhantes é muito bom.”
“Estar aqui não é concessão. É direito nosso tardiamente garantido.”
Conceição menciona já ter sido definida como uma figura midiática por certas pessoas. Quanto a isso, esclarece que o primeiro espaço de acolhimento não só de seus textos, como de outros de autoria negra, foi dentro do movimento social negro, ainda nos anos 80.
Depois, elucidou a autora, essas obras literárias chegaram até as salas de aula de Ensino Fundamental por intermédio de professoras. Em momento posterior, quando essas mesmas educadoras entraram para o mestrado e o doutorado, começaram a levar esses trabalhos de Conceição para suas escritas e pesquisas e encontraram docentes receptivos(as) para trabalhar com esses textos.
“Não foi ‘Jabuti’ (…), não foi a revista ‘Cláudia’ que me fez. Quem me fez, quem me colocou nessa situação, primeiramente foi o movimento social negro, junto com meus pares; foi agregando professores, pesquisadores, estudiosos…”
“Não nasci pelas mãos da mídia, isso tem que ficar muito claro.”
Ao fim do evento, mesmo exausta após integrar o seminário recém-chegada de uma viagem, a ensaísta não recusou o momento de tietagem da galera. Simpática e atenciosa, recebeu cada fã para autógrafos e fotos.
Com meus exemplares de Ponciá Vicêncio e Becos da memória autografados, saí de lá contente e encantada por ter conhecido de perto essa que é uma voz potente e incansável que protesta contra as desigualdades de gênero, classe social e etnia em uma país como o nosso: tão plural e ainda tão desigual.
Fonte de consulta: Evento no Facebook Conceição Evaristo no SapUerj Letras 2017.