Crônicas

A merenda inusitada

Era um dia corriqueiro no colégio. Devia ter no máximo uns 10 aninhos na cara. A criança faminta que eu era, enquanto aguardava o sinal tocar, já salivava pensando nos sanduichinhos que iria comer no recreio. No que deu o horário, peguei minha lancheira e zarpei, ao lado das colegas, para o pátio, a fim de brincar de diversas variedades de pique, tramar histórias com bonecos de pelúcia e – a parte mais importante – lanchar!

No momento em que abri o potinho do lanche, não entendi nada. Não era o que estava esperando encontrar! Encarei aquele conteúdo inesperado sem compreender o que se passava… Afinal, cadê meus sanduichinhos?

A sorte era que a Larissa, não apenas minha irmã como também aquela que devia me auxiliar em momentos de desespero – quando da ausência de papai, mamãe ou vovó -, tinha que estar em algum lugar por perto. Afinal, o horário e local do recreio das nossas turmas eram os mesmos.

Lá fui eu, buscar pela minha irmã mais velha no pátio do colégio. Sozinha, com a lancheira em uma mão e o pote de conteúdo inesperado na outra. Eis que a encontro! Sou capaz de visualizar a cena até hoje: ela e sua amiga Luana conversavam, lado a lado, sentadas em um dos bancos de madeira do espaço.

Me aproximei lentamente, um pouco tímida. Queria poder rever essa cena hoje, como expectadora. Modéstia à parte, deve ter sido bem fofo. Imagina um cotoquinho de gente confuso em um intervalo escolar diante da ausência de seus sanduichinhos!

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Uma daquelas fotos que a gente bate na escola.  Deve ter sido na época do episódio da merenda inusitada.

Dei um “oi”, ao que elas responderam. Pedi que a minha irmã se aproximasse, pra falar uma coisa. Ela não deu muita bola: não estava a fim interromper as fofocas com a amiga para dar atenção à irmã mais nova. Insisti. Meio relutante, ela se aproximou e permitiu, então, que eu narrasse o ocorrido com a discrição que a ocasião pedia.

“Larissa, olha só o que a mamãe mandou pra mim de lanche”, abri o potinho para que ela mesma visse do que se tratava e compreendesse a gravidade da situação. Esperava que ela se comovesse com o fato e me doasse, sem relutar, um de seus sanduíches e, quiçá, me desse um abraço de consolo! O que se sucedeu, no entanto, foi uma sonora gargalhada!

Eu, a pobre pequena sem lanche, agora além de esfomeada estava envergonhada. Poxa, a Larissa não precisava contar tudo pra amiga, entre risadas! Será que era tão engraçado assim a mamãe ter mandado por engano um pote de presunto, o qual já estava com aspecto duvidoso depois de uma tarde inteira dentro da minha lancheira?

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