Era um dia como outro qualquer para um adulto, já que para a pequena versão de mim, era mais uma oportunidade de arquitetar uma aventura. Junto com o sol nasciam novas possibilidades de entretenimento para a marota Rafinha, cuja única obrigação, à época, era arranjar formas interessantes de ocupar o passar das horas.
O apartamento no qual morava com minha família era pequeno, mas recheado de possibilidades. O destino escolhido para a brincadeira da vez foi o quarto dos meus pais, o qual iria futucar até encontrar qualquer objeto capaz de me entreter.
Ao entrar no aposento, me deparei com um lenço arroxeado, belo e leve. Não havia mais ninguém ali. Era chegada a hora de criar: soltar a imaginação que começava a brotar naquela mente infantil e ser quem eu quisesse!
A Cinderela era minha favorita dentre as princesas da Disney. Hoje em dia, aquele apreço todo pela personagem já se foi, mas ainda guardo com carinho as lembranças dos momentos nos quais me estirava no sofá para assistir – mais uma vez! – ao filme da princesa, com empolgação, apesar de já saber a narrativa toda de cor.

Aquele tecido arroxeado nas minhas mãos me convidou a imergir na trama que tanto amava. Mas eu não seria a protagonista dessa vez. Amante dos obstáculos criativos das Artes Cênicas desde pequena, decidi encarnar a mandona meia-irmã de Cinderela, Drizela. De fato, até hoje me encanta esse desafio do teatro: interpretar uma personagem com a qual não me identifico; dar vida a uma personalidade tão diferente da minha…
De todo modo, se segundos antes Rafinha segurava um pedaço de pano leve, belo e arroxeado, agora era Drizela Tremaine quem sustentava não um tecido qualquer, mas o vestido de baile de Cinderela. E a antagonista não poderia permitir que sua meia-irmã tivesse o prestígio de aparecer em público naqueles lindos trajes!
A vilã, tomada pela cólera, iniciou sua busca por um objeto cortante. Futucou seu aposento até encontrar uma tesoura. Ha ha ha! Quem Cinderela pensava que era para cogitar ir até aquele baile? Somente Drizela e sua irmã Anastácia poderiam brilhar junto à realeza em um evento daquele porte.
A antagonista se pôs a fazer rombos enormes no vestido da meia-irmã, com a tesoura pontiaguda que encontrara. Rasgava a bela vestimenta, sem piedade, enquanto enunciava rudes palavras à moça, que agora já perdera por completo as esperanças de figurar, naquela noite, no palácio real.

Para mim, foi nesse momento que o relógio bateu a meia-noite. Pois minha mãe chegou a tempo de me encontrar no ato! Não havia escapatória: eu ainda sustentava, nas pequenas e rechonchudinhas mãos, um tecido despedaçado e uma tesoura.
“Rafaela! O que você fez com o xale importado que minha amiga me deu?!”, minha mãe enunciou, com a postura firme que só filha e aluno/a de Andréa Relva conhece. A pequena versão de mim, por sua vez, nada pôde fazer. Nem tentou contra-argumentar. Afinal, como explicar que a responsável pelo estrago não fora eu, mas sim Drizela Tremaine?
Rafa, posso ver a cara de sua mãe na cena!
Querida, me delicio lendo suas palavras tão profundas!
Que lindo e profundo texto sobre Infância!
Parabéns!
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Hahaha, aquela cara que a gente conhece…
Que bom! Fico imensamente feliz de provocar sensações boas com minhas palavras!
Obrigada pelo carinho!
Beijos mil!
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Rs… Verdade, um belo lenço que uma amiga havia trazido da Índia, pois lá havia ido há pouco. Mesmo não estando mais entre nós, o acessório é ainda preservado em nossas lembranças! Com certeza, mais “badalado” do que se inteiro ainda estivesse. Rs…
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Hahahah! Pobre e destroçado xale! Pode ter certeza mãe, mais “badalado” do que se estivesse de boa lá no seu armário!
PS: fico feliz que consiga recordar do ocorrido com humor! 😀
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Rafa não conhecia essa sua versão de terrível, adorei!! Imagino a cara da sua mãe!!!
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Oi Tetê!!
Que bom que está acompanhando meu blog! 🙂 E que bom que curtiu a Rafinha arteira! Hahaha! xD
Minha mãe ficou uma fera na hora, mas pode perceber que atualmente ela abre um sorriso quando lembra dessa história! 😀
Beijos!
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Lindo escrito, Rafa…
Quando li infância, logo me veio à lembrança um mix de azeitonas, tremoços e salaminhos que vocês fizeram no liquidificador de brinquedo, espalhando tudo pelo chão do quarto.
“Andrea, eles estão muito quietos. Vamos lá ver!”
Quando de repente um grito apavorante e furioso: Ahhhhh!
Hahahahaha… Inesquecível!
Sucesso com o Blog.
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Hahahah! Acredita que eu fiquei na dúvida sobre qual lembrança escrever? Quase foi essa do mix!! Hahahaa.
Que bom que gostou! Volte sempre!
Beijos!! ❤
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HAHAHAHAHAHA! Como sempre, eu só ri hehehehe Bons tempos! Amei o texto!
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